Quase mil crianças e adolescentes de 10 a 14 anos vivem em união conjugal em Mato Grosso, segundo dados do Censo 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento identificou 946 casos no estado. A maioria envolve meninas, que representam 769 dos registros, enquanto 177 são meninos. O cenário reproduz a tendência nacional, em que as uniões precoces atingem principalmente o sexo feminino.
As informações foram obtidas a partir do questionário da amostra do Censo, que investigou padrões de nupcialidade e composição familiar. Embora a união consensual seja diferente do casamento formal, a prática levanta preocupações, pois no Brasil é proibido o casamento civil de pessoas menores de 16 anos, conforme o Código Civil.
Entre as características mais presentes nos dados, destaca-se que grande parte dessas crianças e adolescentes se declaram católicas e vivem situações classificadas como uniões consensuais, ou seja, sem registro oficial.
Especialistas apontam que as uniões precoces trazem riscos à educação, à autonomia e à saúde desses jovens, além de perpetuar ciclos de vulnerabilidade social. Casamentos infantis estão frequentemente associados à evasão escolar, gravidez precoce e à limitação de oportunidades na vida adulta.
Apesar de campanhas nacionais de prevenção e tratados internacionais que consideram o casamento infantil uma violação de direitos, a prática segue presente, principalmente em áreas com menor acesso a políticas de proteção e acompanhamento familiar.
Organizações que atuam na defesa da infância reforçam a necessidade de ações de enfrentamento, educação e fortalecimento de vínculos comunitários, para interromper um ciclo que segue reproduzindo desigualdades de gênero e exclusão.