Mato Grosso pode ter duas novas ondas de calor extremo e safra agrícola prejudicada devido a falta de chuvas

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Dados trazidos no I Painel Mato Grosso do Clima mostram que pelo menos durante os meses de dezembro e janeiro, Mato Grosso deve ter temperaturas até 2,5 graus acima da média e menos chuva. De acordo com a meteorologista Ana Paula Paes, que conduziu a parte técnica do evento, o estado se mantém sob influência do EL Niño. “Ainda é cedo pra prever, mas pelas características climáticas apresentadas para os próximos meses, há sim chance de termos em Mato Grosso, duas novas ondas de calor, com temperaturas de até 43 graus”, disse a especialista.

A meteorologista é consultora da Energisa, que está compartilhando relatórios do clima com o recém-criado comitê de crise climática. O grupo é coordenado pelo Comando Regional I do Corpo de Bombeiros e conta com a participação das Defesas Civis de Cuiabá e Várzea Grande e secretarias de trânsito das duas cidades, além da concessionária e da Nova Rota do Oeste. Além disso, novas empresas estão sendo convidadas a fazer parte da iniciativa.

“Dentro do comitê, nós estamos buscando todos os insumos necessários para estar preparado para possíveis situações de crise climática, principalmente temporais e até queimadas. A ideia é monitorar, prevenir, responder de forma rápida e se comunicar com a sociedade”, destacou o tenente do Corpo de Bombeiros, Anttoniery Campello, que reforçou também o papel da imprensa no apoio às ações.

“Nós precisamos muito da imprensa, que pode fomentar junto à população, por exemplo, campanhas de conscientização como a poda preventiva de árvores, que podem cair sobre vias públicas, casas e redes de energia durante temporais, causando acidentes sérios. Então é importante plantar certo e cuidar das árvores”, comentou o tenente.

Já o coordenador da Defesa Civil de Cuiabá, Alex Botelho, reforçou outro problema. “A prevenção passa também por não jogar lixo no chão. É uma atitude simples, que evita o entupimento de galerias e alagamentos. Possíveis campanhas que alertem sobre esse tema, são muito importantes”, complementou Alex Botelho.

O coordenador de operações da Energisa, Vinicius Alfonso, informou que só neste ano, Mato Grosso acumula 11 milhões de descargas elétricas. Os números têm base em registros do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Em 2022 foram 20 milhões. “Olhando assim, parece que tivemos uma condição melhor. A questão é que quando a chuva vem, ela está muito mais concentrada e isso pode gerar danos. Pra se ter uma ideia, só neste ano mais de 5.400 postes foram derrubados, a maior parte no campo, onde os ventos não têm resistência e ganham ainda mais força”, detalhou o coordenador.

FALTA DE CHUVA GERA PERDAS NO CAMPO

Ainda no evento, foram mostradas características do EL Niño, que está sendo classificado por especialistas como “muito forte”, elevando em mais de dois graus a temperatura no mundo, em média. O fenômeno só deve perder força a partir de abril do ano que vem. O presidente do Lide Mato Grosso, Evandro César Alexandre dos Santos, mostrou preocupação com a produtividade agrícola.

“Nós temos hoje produtores que ainda não conseguiram plantar soja, muitos estão plantando algodão pra cobrir contratos e o plantio do milho pode ser impactado”, frisou Evandro César. E a especialista no clima confirmou que a análise tem sentido. “Nós só devemos ter a volta da chuva com força em fevereiro. Por isso, culturas que dependem de muita água, podem sofrer mais”, comentou Ana Paula Paes.

Para o diretor de Geração Distribuída e Energias Renováveis do Sindenergia Mato Grosso, que faz parte do Sistema FIEMT, Carlos Rocha, o El Niño está nos mostrando um cenário que poderá ser comum em algumas décadas, por causa do aquecimento do planeta. Por isso, é preciso agir já contra este novo normal. “Todos aqueles que possuem esse conhecimento tem que contribuir pra encontrarmos saída, encontramos caminhos. Então, nada melhor do que debater isso com as instituições, com as empresas, com a indústria, com a sociedade em geral. Encontrar caminhos para gente se preparar para essas adversidades climáticas”. ponderou Carlos Rocha.

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