O Banco Central Europeu, o Federal Reserve dos Estados Unidos, o FMI, o Brasil e a Argentina já deram seus primeiros passos para tentar frear, na medida do possível, os impactos da onda de inflação global que se apresenta. Estes países e outros não citados têm muito a perder, caso suas moedas sejam afetadas por uma onda de desvalorização generalizada, uma vez que toda a previsibilidade produtiva e do comércio internacional depende destas moedas como um de seus principais referenciais diariamente.
Mas alguém aí já parou para se perguntar de onde vem esta escalada inflacionária? Parece que a grande mídia brasileira, mais uma vez, ou por incapacidade técnica ou simplesmente porque é paga para se fazer de cega, vai deixar a história ser contada pela metade e parecer que, de repente, o acaso agiu e provocou uma tsunami econômica em todo o Planeta.
O FIM DE UM CICLO – Não é novidade para ninguém que o grande ciclo de crescimento econômico chinês, com crescimento do PIB em patamar de dois dígitos, chegou ao seu esgotamento e que Pequim, cada vez mais, se vê em um mundo em que é necessário negociar com outros players globais, tanto para importar quanto para exportar. Outro problema é que, a partir de Deng Xiao Ping, os empresários chineses (sim, o Estado vermelho é “bonzinho” e deixa empresários atuarem) começaram a ver que a mão do Partidão era pesada demais e apertava em pontos que os estrangulava. Em terceiro lugar, o Estado chinês usou recursos monumentais para financiar obras que, no final das contas, só existiam para movimentar a economia, mas que não gerava eficiência (a ponto de existirem dezenas de cidades-fantasma no território de Mao Tsé Tung… só porque, segundo Pequim, era necessário construir).
O QUADRO GERAL – Juntando tudo isso em um só balaio, temos o seguinte quadro: hiperprodução, baixa poupança dos consumidores internos, Estado gerando demanda sem eficiência, empresários viciados em obras estatais… e eis que, não sem surpresa, encontramos empresas chinesas devendo bilhões de dólares no mercado internacional, crise energética crescente, aumento da pressão internacional por regulamentação ambiental, questionamentos sobre direitos humanos cada vez mais frequentes, acusações de suborno a autoridades financeiras internacionais, escassez de matéria-prima para setores considerados fundamentais para a economia. Diante disso, a China resolveu exportar sua crise para os outros! Se sua moeda sofreria os impactos de duas décadas de luxúria e esbórnia correntista, então, para não retroceder sozinha, o negócio era obrigar o resto das economias a dar marcha-ré junto com ela.
PAGANDO A CONTA – O que o Brasil tem a ver com isso? Bem, o Brasil já está sentindo isso de algumas formas: falta de insumos agrícolas, incertezas quanto ao preço dos grãos (soja e milho, principalmente, mas não só), ameaça de boicote à proteína animal (sob a velha desculpa de barreira sanitária que nunca apresenta padrões claros de controle… ou seja, é só uma desculpa esfarrapada), aumento na taxa de importação de peças (alô, você, que comprou carro chinês achando que estava fazendo um bom negócio)… enfim, a China vai fazer de tudo para sugar todo o dinheiro que conseguir do mundo para refazer seu fluxo de caixa… e que aguente quem puder aguentar.
AH… antes que eu me esqueça: lembra quando você pensou que a China era um parceiro comercial confiável e cheio de boas intenções???? Pois é… hora de rever seus conceitos…
*Sonir Boaskevis é jornalista, sociólogo e estudante de Ciências Econômicas.