A Câmara Setorial Temática (CST) da Apicultura Profissional e Recreativa realizou, nesta quinta-feira (8), a terceira reunião ordinária. A CST foi criada para fazer o diagnóstico da cadeia produtiva e discutir políticas públicas de incentivo à apicultura no estado.
Na pauta da 3ª reunião, o convidado para falar sobre as abelhas e a bioeconomia foi o professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Evandson José dos Anjos. Segundo ele, um dado curioso informado aos participantes presenciais e virtuais foi que 99% das diversas espécies de abelhas já foram extintas.
“Hoje, o 1% restante representa um milhão de espécies, sendo que o homem não conhece a grande maioria das espécies das abelhas. Por isso é preciso que o governo de Mato Grosso implante uma política de Estado para preservar as espécies de abelhas”, disse Evandson dos Anjos.
Em Mato Grosso, de acordo com o presidente da CST, José Lacerda, a apicultura é uma atividade econômica que ainda não tem assessoria técnica e financeira, e conta com problemas para comercialização dos produtos. Lacerda afirmou que a proposta é de fortalecer a parceria com o governo do estado e com os municípios brasileiros.
“Mas para isso, os produtores têm que aperfeiçoar as técnicas de produção e, com isso, certificar os apicultores para que possam comercializar os produtos no mercado. Mato Grosso tem um clima favorável que propicia a produção de mel durante todo o ano”, afirmou José Lacerda.
O professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e secretário da CST, Afonso Lodovico Sinkoc, afirmou que o governo estadual deve voltar os olhos à apicultura através de políticas públicas e depois transformá-las em políticas de Estado. Segundo ele, as abelhas são fundamentais a polinização das plantas e, com isso, gera o aumento da produtividade econômica mato-grossense.
“Se a gente considerar que Mato Grosso é um estado agro brasileiro, teríamos um impacto econômico. Mas no Brasil, a manutenção das abelhas vem de encontro com outra ação que é o uso de defensivos agrícolas. Então, com a implementação da apicultura, a gente indiretamente reduz o uso de agrotóxicos e tem um benefício ambiental extraordinário”, explicou o professor.
Ele afirmou ainda que o apicultor brasileiro é composto, em sua grande maioria, de pequenos produtores. “Ele está vinculado à pequena produção. Hoje, em torno de 50% dos apicultores são pequenos produtores, então ele não tem capacidade para financiamento de algumas atividades dentro da apicultura e, com isso, gerar um produto seguro e inspecionado pelo Estado e não um produto falsificado que vive nas prateleiras e margens das estradas”, disse o professor.
O apicultor nos municípios de Itiquira e Chapada dos Guimarães, Willian Ambrósio de Oliveira, afirmou que o estado não oferece política pública para os produtores de mel em Mato Grosso. Ele disse, ainda, que a produção é vendida a amigos. “Essa é a grande dificuldade. Se você ver por aí no mercado, vai encontrar bastante mel sem certificação sanitária. Tudo em função da falta de política pública. Os apicultores não têm acesso ao mercado regular”, disse Oliveira.
O presidente da Associação dos Apicultores do Vale do São Lourenço, Mauro Luiz Bogado, disse que o segmento enfrenta dificuldades para manter os apicultores em atividade, além de o governo dar apoio por meio de políticas públicas para o setor. “Mas apesar de tudo isso, os apicultores fazem um trabalho de beneficiamento do mel no município de Jaciara. A gente está buscando a regularização do nosso projeto para oferecer à sociedade um produto certificado”, disse Bogado.
De acordo com dados da UFMT, o estado mato-grossense ocupa atualmente o 14º lugar na produção de mel no país. A produção anual chega a 466 toneladas, esse número mostra que o estado explora apenas 0,3% do potencial apícola que possui.
A pesquisa mostra ainda que, em Mato Grosso, uma colmeia produz em média 30 quilos de mel por ano. Na região do Pantanal, a produção quase duplica, atingindo uma média de 50 quilos de mel/ano.
Todo mel produzido no estado é consumido no mercado interno. Para suprir a alta demanda, Mato Grosso importa de outros estados, principalmente das regiões Sul e Sudeste.
Vale lembrar que a produção de mel no Brasil teve alta de 9,5% no ano passado, chegando ao recorde de 61 mil toneladas. O estado que mais produz é o Rio Grande do Sul, com 9 mil toneladas (14,8%), seguido de Paraná (14,2%) e Piauí (13,7%).
A iniciativa da CST é do deputado Wilson Santos (PSD), que defende o incentivo para aproveitar potencial ambiental do estado para impulsionar setor apícola e estimular desenvolvimento econômico por meio de políticas públicas que garantam o desenvolvimento tecnológico, assistência técnica, certificação de origem e instituição de selo de qualidade.