A recente publicação do Edital de Notificação nº 25/2025 pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) acendeu um alerta entre os produtores rurais de Mato Grosso. O documento classifica diversas propriedades como zonas de alto risco de incêndio e determina que os responsáveis adotem medidas de prevenção e controle nas áreas notificadas, sob pena de autuação e aplicação de multas. A medida pode atingir mais de 1.500 propriedades rurais de diferentes portes, distribuídas nos municípios de Cáceres, Poconé, Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio de Leverger, Barão de Melgaço, Itiquira e Porto Esperidião.
Diante da situação, a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) se manifestou com preocupação, alegando que a notificação responsabiliza de forma indevida os produtores por riscos muitas vezes estruturais e climáticos, sem oferecer o devido respaldo técnico e logístico para atuação em campo. Em ofício enviado ao governador Mauro Mendes, ao presidente do IBAMA Rodrigo Agostinho e à superintendente do órgão em Mato Grosso, Cibele Madalena Xavier Ribeiro, a entidade solicita a implantação de brigadas permanentes do Programa PREVFOGO, além da contratação de brigadistas temporários para atuar nas regiões classificadas como vulneráveis ao fogo.
Segundo a Acrimat, é urgente que o Estado e o Governo Federal assumam seu papel na estruturação de políticas públicas preventivas, especialmente em áreas que abrigam pequenos produtores, mais expostos aos efeitos das ações punitivas do poder público. “A responsabilidade pelo controle de incêndios precisa ser compartilhada e subsidiada por iniciativas que realmente fortaleçam a capacidade de resposta das comunidades rurais”, afirma a associação.
A entidade também alerta para as consequências econômicas da medida. A inclusão das propriedades na lista de alto risco pode manchar a reputação dos produtores e, mais grave ainda, comprometer o acesso ao crédito rural, ferramenta essencial para manter a produtividade no campo e o equilíbrio financeiro das atividades.
Outro ponto que gerou polêmica foi a notificação de áreas indígenas, como a Terra Indígena Kadiwéu. Para a Acrimat, esse tipo de inclusão foge à competência dos produtores rurais, já que a responsabilidade sobre o manejo ambiental e prevenção de incêndios em terras indígenas é exclusiva da União. Transferir tal obrigação ao setor produtivo, segundo a entidade, é não apenas injusto, mas tecnicamente equivocado.
Por fim, a associação reforça que o produtor rural é parceiro da preservação ambiental, investe em boas práticas e está comprometido com a sustentabilidade. No entanto, cobra dos órgãos ambientais critérios técnicos, imparciais e transparentes na formulação de políticas e na fiscalização do setor. “A construção de soluções exige diálogo, ciência e cooperação, não apenas sanções. É preciso reconhecer a complexidade da realidade do campo”, conclui a nota divulgada pela Acrimat.